Saúde mental e doenças crônicas: médicos suíços estão prescrevendo visitas a museus como tratamento. E o Brasil?
Em Neuchâtel, uma pitoresca cidade no oeste da Suíça, uma abordagem inovadora está transformando o tratamento de doenças mentais e crônicas: médicos passaram a prescrever visitas gratuitas a museus e passeios em jardins públicos como forma de terapia. Lançado recentemente, o projeto-piloto distribuiu 500 “receitas culturais” que permitem acesso sem custo a três museus locais e ao jardim botânico da cidade. A iniciativa visa promover o bem-estar emocional e incentivar a atividade física entre os pacientes.
A inspiração para o programa veio de um estudo de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que explorou o papel das artes na promoção da saúde e no tratamento de doenças. Durante os lockdowns causados pela COVID-19, o fechamento de espaços culturais afetou negativamente o bem-estar das pessoas, reforçando a importância da cultura para a saúde mental.
Profissionais de saúde envolvidos no projeto acreditam que essas visitas permitem que os pacientes esqueçam, mesmo que temporariamente, suas preocupações e dores, proporcionando momentos de descoberta e alegria. A médica Patricia Lehmann, participante do programa, afirmou: “Estou convencida de que, quando cuidamos das emoções das pessoas, permitimos que elas, de alguma forma, talvez encontrem um caminho para a cura.”
Com um orçamento de 10 mil francos suíços, o projeto será testado por um ano e, se bem-sucedido, poderá ser expandido para incluir outras atividades culturais, como teatro. Há também a esperança de que, no futuro, os seguros de saúde possam cobrir a cultura como uma forma de terapia.
Essa iniciativa destaca o potencial da arte e da cultura como ferramentas terapêuticas, oferecendo uma alternativa complementar aos tratamentos tradicionais para diversas condições de saúde.
Terceira idade: a arte faz bem para o corpo e a mente
A arteterapia tem se consolidado como uma abordagem eficaz para promover a saúde e o bem-estar na terceira idade. Diversos estudos e iniciativas destacam os benefícios dessa prática para os idosos:
1. Estímulo cognitivo
Atividades artísticas, como pintura e escultura, mantêm o cérebro ativo, fortalecendo conexões neurais e auxiliando na prevenção de declínios cognitivos. A arteterapia permite que os idosos trabalhem a coordenação motora, despertem a sensibilidade, a intuição e a criatividade, proporcionando um maior autoconhecimento e percepção do mundo ao seu redor.
2. Melhoria da saúde emocional
Expressar-se por meio da arte possibilita que os idosos processem emoções complexas, como o luto, de maneira saudável. Essa forma de comunicação não verbal é especialmente benéfica para aqueles que enfrentam dificuldades de expressão verbal, promovendo o autoconhecimento e o bem-estar mental.
3. Redução do estresse e ansiedade
Engajar-se em atividades artísticas proporciona uma válvula de escape para o estresse e a ansiedade. A criação artística oferece uma sensação de relaxamento e tranquilidade, permitindo que os idosos lidem de forma mais eficaz com os desafios do envelhecimento.
4. Melhoria da coordenação motora
A prática de técnicas como recorte e colagem trabalha a coordenação motora fina, enquanto a modelagem com argila estimula a função sensorial e a organização tridimensional. Essas atividades permitem que os idosos entrem em contato com suas emoções e sentimentos, promovendo o autoconhecimento e a expressão criativa.
5. Promoção da socialização
Participar de sessões de arteterapia em grupo fortalece os laços sociais, combatendo a solidão e promovendo um senso de comunidade. Atividades como música, artesanato e arte do palhaço têm mostrado reduzir a ansiedade, a dor e a pressão arterial, além de melhorar a interação social entre os participantes.
Incorporar a arteterapia na rotina dos idosos é uma estratégia valiosa para promover um envelhecimento saudável e ativo. Ao engajar-se em atividades artísticas, os idosos não apenas enriquecem sua qualidade de vida, mas também fortalecem sua saúde física e mental, contribuindo para uma longevidade com mais bem-estar e satisfação.

Arteterapia no Brasil: iniciativas que promovem o bem-estar
A arteterapia tem se consolidado no Brasil como uma abordagem eficaz para promover a saúde e o bem-estar dos idosos. Diversas iniciativas em todo o país demonstram o impacto positivo das atividades artísticas na terceira idade.
Um exemplo notável é o Projeto Mosaico, inspirado pela obra da psiquiatra Nise da Silveira. Desenvolvido no Sistema Único de Saúde (SUS) em São Bernardo do Campo (SP), o projeto oferece oficinas artísticas a pacientes psiquiátricos com transtornos como esquizofrenia. Essas atividades visam melhorar a qualidade de vida, estimular habilidades cognitivas e promover a expressão emocional dos participantes, resultando em maior autocontrole e autoestima.
No âmbito acadêmico, o Centro Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão sobre o Envelhecimento (Cempe), vinculado ao Hospital Universitário Gaffrée e Guinle da Unirio, desenvolveu um projeto de extensão universitária focado em arteterapia para idosos. As atividades incluem pintura, desenho, recorte-colagem, dramatização e escrita criativa, com o objetivo de reduzir sintomas depressivos, promover o autoconhecimento e resgatar a autoestima dos participantes.
Em Vitória (ES), o Circuito Cultural inovou ao oferecer oficinas de arteterapia para idosos, abrangendo atividades como cerâmica, pintura em guache, colagem e produção de vídeos. Essas oficinas, ministradas por profissionais especializados, proporcionam aos participantes a oportunidade de desenvolver novas habilidades e expressar sua criatividade.
Além disso, o Teatro do Sopro, uma organização não governamental fundada no Rio de Janeiro, realiza intervenções terapêuticas e culturais em Instituições de Longa Permanência para Idosos e comunidades. Utilizando técnicas artísticas do palhaço, o projeto busca combater o preconceito contra a velhice e a demência, promovendo uma visão positiva do envelhecimento e fortalecendo a comunicação e as relações interpessoais dos idosos.
O Programa Idoso Feliz Participa Sempre (PIFPS), vinculado à Universidade Federal do Amazonas (Ufam), atua há mais de 31 anos promovendo atividades físicas para idosos. Sua missão é oferecer nove modalidades de exercícios e fomentar a inserção social dos participantes.
Essas iniciativas refletem o crescente reconhecimento da arteterapia no Brasil como uma ferramenta valiosa para melhorar a qualidade de vida na terceira idade, integrando cultura e saúde em prol do bem-estar dos idosos.

O que isso tem a ver com a sua vida?
Incorporar a arte no cotidiano pode ser um passo transformador para a sua saúde e bem-estar na terceira idade. Atividades como pintura, música, dança e artesanato não são apenas passatempos agradáveis; elas oferecem benefícios concretos:
- Estímulo à memória e concentração
- Redução do estresse e da ansiedade
- Melhoria da coordenação motora
- Fortalecimento da autoestima
- Ampliação das interações sociais
Essas práticas promovem um envelhecimento mais ativo e saudável, permitindo que você descubra novas habilidades e formas de expressão. Ao engajar-se em atividades artísticas, você não apenas enriquece sua rotina, mas também fortalece sua saúde mental e emocional.
Que tal dar o primeiro passo? Explore as opções disponíveis na sua comunidade, participe de oficinas culturais ou simplesmente permita-se experimentar uma nova forma de arte. Afinal, nunca é tarde para descobrir o artista que existe em você e colher os frutos de uma vida mais plena e colorida.