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Parques de Manaus e terceira idade: bem-estar, obstáculos e caminhos para a inclusão

Parques de Manaus e terceira idade: bem-estar, obstáculos e caminhos para a inclusão

Os parques urbanos podem ser grandes aliados da longevidade. Para quem passou dos 60, esses espaços oferecem muito mais que lazer: proporcionam conexão com a natureza, alívio do estresse, estímulo à mobilidade e oportunidades de socialização — elementos essenciais para uma vida ativa e saudável.

Com vegetação abundante, trilhas e pistas para caminhadas, os parques públicos ajudam a aliviar o calor, filtram o ar e funcionam como um verdadeiro refúgio na rotina da cidade. Mas, apesar de tantos benefícios, fica a pergunta: os parques de Manaus estão preparados para receber bem o público sênior?

A equipe da Happy Sênior visitou alguns dos principais parques da capital amazonense para avaliar aspectos como acessibilidade, conforto, segurança e opções de lazer voltadas à terceira idade. O resultado revela tanto boas surpresas quanto desafios que ainda precisam ser superados.

Parque do Mindu: um respiro verde com potencial para a inclusão

Localizado no bairro Parque Dez, o Parque Municipal do Mindu é um dos mais conhecidos da cidade. Cercado por mata nativa, abriga uma rica biodiversidade e é conhecido por ser o habitat do sauim-de-coleira — pequeno macaco em risco de extinção que vive exclusivamente em Manaus e arredores.

A tranquilidade do ambiente, somada à boa infraestrutura para caminhadas e ao clima mais ameno, torna o parque especialmente atrativo para o público sênior. É o caso da professora universitária Maria Luíza Germana, que frequenta o local há mais de 16 anos. “As caminhadas me ajudaram a estabilizar a pressão, aumentaram minha disposição e até melhoraram meu humor com os alunos”, conta.

O espaço oferece bancos para descanso, áreas de contemplação e sombra generosa sob árvores altas. No entanto, ainda há carências importantes: a ausência de visitas guiadas, atividades específicas para idosos e placas com letras pequenas dificultam o aproveitamento pleno dos visitantes com mobilidade reduzida ou baixa visão.

Com anfiteatro, trilhas e um espaço simbólico construído com pedras trazidas por jovens de diferentes países, o parque tem vocação para abrigar rodas de conversa, oficinas e eventos voltados à terceira idade. Bastaria um esforço de gestão para transformar esse potencial em realidade.

O parque conta com pista para caminhada, bancos de descanso e boa arborização– foto: Secretaria de Cultura e Economia Criativa

Parque Jefferson Peres: lazer, memória e desafios para a inclusão

Inaugurado em 2009, o Parque Senador Jefferson Peres ocupa uma área que antes era bastante degradada no Centro de Manaus. Com jardins bem cuidados e referências visuais à Belle Époque manauara — como esculturas metálicas de bondes e casais elegantes — o espaço resgata elementos históricos da cidade, mas ainda carece de ações que estimulem a presença da terceira idade.

O parque conta com pista para caminhada, bancos de descanso e boa arborização. É ideal para momentos de contemplação e passeios leves, especialmente nos horários de menor movimento. No entanto, ainda há pontos que dificultam a vivência plena por pessoas com mais de 60 anos.

A ausência de sinalização clara, a falta de atividades específicas para o público sênior e relatos esporádicos de pequenos furtos na saída do parque preocupam. Apesar de sua localização privilegiada, o espaço carece de ações contínuas que incentivem o uso seguro e prazeroso pelos idosos.

Com estrutura para eventos culturais e uma atmosfera nostálgica, o Jefferson Peres tem potencial para se tornar um espaço de convivência para a terceira idade. Programações semanais de música, dança, contação de histórias ou até mesmo rodas de conversa sobre memória e patrimônio poderiam transformar o local em referência para o envelhecimento ativo na capital. A ambientação nostálgica pode até despertar memórias afetivas em quem viveu o Centro em décadas passadas, mas é preciso mais do que símbolos para torná-lo verdadeiramente acolhedor para os idosos.

Infraestrutura e conforto: o que os parques de Manaus ainda deixam a desejar?

Embora os parques de Manaus ofereçam áreas verdes bem cuidadas e gratuitas, nem todos estão preparados para receber com conforto e segurança o público 60+. A maioria ainda apresenta obstáculos que dificultam a experiência dos idosos, especialmente daqueles com mobilidade reduzida ou necessidades específicas.

Terrenos irregulares, ausência de trilhas adaptadas, poucos bancos em locais estratégicos e banheiros sem acessibilidade são alguns dos desafios enfrentados. Elementos que parecem simples — como rampas suaves, pisos antiderrapantes e sinalização com letras ampliadas — fazem uma enorme diferença na autonomia de quem já não caminha com tanta facilidade.

Outro ponto importante é a falta de atividades regulares voltadas para a terceira idade. Caminhadas orientadas, aulas de alongamento, oficinas de jardinagem ou programas culturais ao ar livre poderiam incentivar a frequência dos idosos e contribuir para sua saúde física e mental.

Em alguns parques, como o Lagoa do Japiim, os cuidados com a infraestrutura básica se limitam à limpeza e à manutenção do espaço. Faltam, no entanto, políticas públicas claras que pensem os parques também como equipamentos de saúde e bem-estar para uma população que não para de crescer.

As reformas que vêm sendo realizadas em alguns desses espaços representam uma excelente oportunidade para que o poder público repense a acessibilidade e o acolhimento aos idosos — não como um favor, mas como um direito.

Alguns parques ainda carecem de equipamentos pensados para a população sênior – foto: Elton Viana (Semcom/PMM)

Como tornar os parques em Manaus mais inclusivos para a terceira idade?

Com criatividade e vontade política, é possível transformar os parques de Manaus em ambientes ainda mais acolhedores e seguros para a terceira idade. As soluções não exigem grandes investimentos: começam por ouvir quem mais entende do assunto — os próprios idosos.

Entre as medidas possíveis, estão a instalação de trilhas adaptadas com sinalização acessível, mais bancos em áreas de sombra, bebedouros em pontos estratégicos e banheiros adaptados com barras de apoio e piso antiderrapante. Além disso, programas fixos de atividades ao ar livre, conduzidos por educadores físicos ou agentes de saúde, podem fazer toda a diferença para promover bem-estar, convivência e autoestima.

Exemplos positivos já são vistos em outras cidades brasileiras, que criaram núcleos de saúde em parques ou organizaram passeios educativos com guias treinados para o público 60+. Em Manaus, experiências como essas seriam muito bem-vindas e poderiam contar com a parceria de universidades, associações de idosos e organizações da sociedade civil.

Mais do que espaços de lazer, os parques têm o poder de reconectar os idosos com a cidade — e consigo mesmos. E quanto mais inclusivos forem esses espaços, mais rica será a experiência de envelhecer com autonomia, dignidade e prazer.

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